3.18.2010

Lara Stone in Incredible Istanbul!

Das (poucas) viagens que já fiz esta é aquela que eu fechei à chave na minha caixa das recordações. É a que eu vou gostar mais de contar à minha fila indiana de bisnetos quando fôr já muito velhinha. É a que vai fazer com que os meus olhos brilhem enquanto a minha voz, já tremida, a vai repetir tantas vezes que os dedos pequeninos deles todos não vão ser suficientes para as contar.
Primeiro, o medo de querer voltar a correr para Lisboa passados dois dias, quase me congelou os movimentos até ao avião. Ainda que acreditasse que sim - "que Istanbul tem uma mística incrível" - isso interessava-me na realidade muito pouco. Afinal, eu tinha (e tenho) a certeza de que não era (nem sou) capaz de arrancar mais de três gotas de misticismo de dentro da minha alma. Ela (a mística, entenda-se) era bem capaz de passar por mim sem que eu lhe sentisse, sequer, o cheiro durante os doze dias que me esperavam.
Mas, no fim, foi por isso, sim. Por ter uma grande mística. Uma mística daquelas que fazem com que na mesma mesa de café se consigam sentar um estudante de erasmus proveniente do norte da Europa, uma jovem turca cujo lenço que lhe tapa todo o cabelo é do mais cinzento que os meus olhos já puderam ver e a irmã desta - também turca, portanto - que, por ter optado por andar sem lenço, mostra as nuances mais loiras que já alguma vez se fizeram e abrilhanta esta imagem com uma argola a colorir o nariz. O incrível é que, por causa deste cenário, não caiu uma única bomba de protesto nem foi chamado o Esquadrão Classe A dos (ditos) Bons Costumes para oferecer conselhos a quem não os pediu.
Istanbul é cheio de mesquitas, de hamams, de banquinhos para nos sentarmos a bebericar chá, de chamamentos para a oração, de lenços coloridos, de tapetes voadores, de mar, mas acima de tudo é cheio de pessoas, de ambiente e de rostos cheios de alma.
Foi na Turquia que eu vi os homens mais bonitos e as mulheres mais bem arranjadas que alguma vez tinha visto. Se em Italia me senti desleixada, na noite de Instanbul percebi que ainda tinha muito que pedalar. Ao contrário do que alguma vez poderia imaginar as turcas são incrivelmente sóbrias e arranjam-se de forma irrepreensível. Transbordam estilo e bom gosto por todos os poros.
Parece que não foi pêra doce fazer uma Turquia assim, mas é a prova de que, quando há vontade (e inteligência) fazem-se coisas realmente louváveis (vide Ataturk na wikipedia).
E por isso é que, no fim, entre uma Índia, cuja aura assume proporções divinas por quase todos aqueles que existem para o mundo místico, mas onde facilmente tropeçamos num morto nas ruas de Delhi e continuamos a andar sem que isso nos desvie do caminho para o melhor bar de Bombaim em que os jovens indianos falam entre eles um inglês mais que perfeito e pedem só mais uma garrafa de champanhe para o caminho até casa, ou Istanbul que é tal qual o que está ali em cima e muito - mas muito - mais, eu não tenho dúvidas sobre qual vai ser a viagem que os meus netos e bisnetos vão saber de cor.

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